sábado, 25 de setembro de 2010

E lá se foram mais 90 dias…

E como toda vez que isso acontece vem chegando o Home Leave, eu, feliz da vida me preparo pra retornar ao Brasil e rever os meus queridos amados e amigos…

Não sem antes dar uma passadinha em Lisboa e ver o que anda acontecendo por lá!

Durante esse merecido descanso o UAIAFRICA também terá seu descando e ficará meio em stand by.

Com tempo, prometo atualizar das novas do Brasil e fotos de Lisboa.

Meados de Outubro retorno com força total e muitas novidades na caixinha!

Beijos e abraços,

Anna

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fotos de um Domingo em Tete

O combinado era o tal passeio de barco pelas margens do Rio Zambeze, a bordo de um barcão com infraestrutura de fazer inveja. Comida preparada a bordo e bebida refrigerada subindo o Rio em direção a Boroma, com direito a voltar se o freguês quiser.

Foi a propaganda! E olha que ajudei a espalhar.

Mas a nossa sinceridade na venda do pacote que custava MZN 1000 e incluía o passeio + almoço sem bebidas, dizia da possibilidade de chegarmos no lugar e não ser possível realizarmos o feito, uma vez que ninguém tinha o bendito número de telefone do proprietário para marcarmos com devida antecedência o nosso intento. Acertamos então, como se trata de um bar do mesmo dono do barco e lugar até arrumadinho, que, caso não fosse possível passeramos no barco nos ajeitaríamos por ali mesmo no bar, comendo e bebendo até o dia passar...

Encontramo-nos na bicha da Ponte das 11:30 e antes mesmo de chegarmos os amigos do carro da frente ligaram dando conta de que o Chico´s (nome do bar) estava fechado, inclusive o bar. Coisas de Tete, a parte, seguimos para o Mulambe, do mesmo lado da Ponte, sentido Moatize - local já recomendado outras vezes.

Demos mais sorte dessa vez.

O belo bar e restaurante muitíssimo bem decorado com motivos locais em pau preto, foi talhado num embondeiro muito bonito e é de um charme delicioso. Traz o gingado moçambicano no serviço, na temperatura da cerveja e nos detalhes, mas compensa pelo conjunto e pela possibilidade de um dia tranquilo entre bons amigos e piadas.

Seguem as fotos.

Novo HIT...

Mais um dia e o Machimbombo não passou na hora de atravessar a Ponte.

Lerdou para chegar na bicha (fila) deixou todo mundo passar na frente e quando resolver se apressar era tarde - os espertinhos da vez foram na frente e ficamos pra trás. Conclusão: Mais uma caminhada pela Ponte em obras, parecendo joguinho de video game.

Anda, anda, anda - ôps, um obstáculo! Salta, atravessa, continua pelo outro lado e ôps, um guidaste! Atravessa de novo, salta, dá uma corridinha, abre espaço para um apressado que vem de trás, respira o refresco da Katarina, dá licença de novo, atravessa mais uma vez - cuidado: Uma moto completamente apagada se aproxima. Ufa! Essa foi por pouco. Recomeça, quase perde um coraçãozinho, dá uma paradinha e espera... O que houve? A ponte está tremendo, é um terremoto? Não? É um caminhão atravessando e balançando as estruturas da coitada. Mais um pouquinho, apressa o passo, vai, você consegue, falta apenas passar embaixo dos andaimes cuidadosamente embaraçados à pilastra principal na saída do centro de Tete. Pula o tablado de metal enferrujado e Aleluia! Agora é só esperar o amanhã chegar e fazer tudo de novo!

Hoje, na travessia nossa de quase todo dia, um colega bem humorado sugeriu que reuníssemos músicas de procissão pra cantarmos durante a passagem e soltamos logo um "Segura na mão de Deus"...
Como ele estava avariado do estômago por causa de um frango mal comido ontem no Hotel, calou-se logo e tensionou-se todo pra vencer os mil metros a frente. E nós, engrossando a fila dos filhos de uma ponte que quase caiu, comentamos, o que por sugestão da Fernanda virou este post.

Seu Jorge não podia ter acertado tanto...
Se conhecesse Tete então, teria escrito assim.

"...A saudade é minha dor,
E anda arrasando com o meu coração
Mas não duvide QUE UM DIA EU VOLTE PRO BRASIL
Pra a gente se casar
No cartório ou na igreja

Se você quiser
Se não quiser
Tudo bem
Meu bem

Mas tente compreender
Morando em TETE
Você sabe como é
HOJE A NOITE E A PONTE ENGARRAFOU
ATRAVESSEI A PÉ

Tentei ligar pra você
O SKYPE NÃO FUNCIONAVA
A MCEL tava quebrada
A VODACOM ESCANGALHADA
MAS VOCÊ CRÊ SE QUISER..."

E amanhã tem mais!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

São nomes de pessoas...

Palito Augusto de Fósforo
Diesel
Mesa
Prego
Razão
Raiva
Jotamo
Castigo
Sabão
Sabonete
Alface
Primeiro
Escrivão
Premildo
Derrepente
Zefenias
Almoço
Coragem
Lote
Sozinho
Sábado


São todos nomes próprios, de pessoas que eu mesma vi ou convivi - é verdade!
Este fato se dá, ou deu-se, quando da chegada dos portugueses e instituição de uma nova ordem que proibia os nativos de registrarem seus filhos com os nomes de origem tribal, como de costume anteriormente. Estes então, sem opção, faziam menção de registrá-los por alcunhas lusitanas - Manuel, Joaquim... E eram igualmente proibidos, afinal, era nomes reservados aos exemplares da nobreza. Sem chance e tempo pra pensar, com fome, humilhados e sem estímulo á reflexão, eram convidados a carregar consigo os papéis cujos nomes registrados eram dados pelos próprios oficiais da época - nomes de objetos, nomes de coisas, de sentimento... E com o passar do tempo, tendo vizinhos, amigos, parentes de toda a ordem com esses nomes, tornava-se comum e motivo de cópia entre gerações, motivo pelo qual multiplicaram-se a rodo os "raivas", "lotes", "castigos", "pregos", virando parte da cultura.

Hoje, porém, escasseam-se os casos na medida em que já são livres, ou, mais livres, pra decidir entre um maior rol.

Como sobrenomes, comum as mesmas situações não menos escondidas uma vez que aqui, o apelido, ou sobrenome é praticamente o nome próprio das pessoas, formalmente chamadas por este na maior parte das vezes.

Novela
Suaterra
Lição
Machoco
Conde
Cadeado
Luta
Prisão
Madrugada

E uma infinidade de outros tantos que não desmerecem ou diminuem em nada quem os carrega, pelo contrário, denota apenas forte ou tímida proximidade com um tempo de características muito próprias que é visto agora, pelo retrovisor...

domingo, 5 de setembro de 2010

Uma aventura pra brasileiro nenhum botar defeito

No último final de semana eu e mais 7 colegas incorporamos o espírito de aventura e decidimos viajar algumas centenas de quilômetros até o Parque Nacional de Gorongosa, uma das únicas opções em Moçambique para se ver animais de fauna bravia, como elefantes e leões.

Eu escrevi um post neste blog falando sobre o parque e manifestei o desejo de conhecê-lo. De lá para cá conversando com um e outro, tocamos no assunto e decidimos marcar a expedição para um sábado não trabalhado, que, como sabem, ocorre a cada final de mês coincidindo com o pagamento dos salários – aqui também conhecido como “Sábado das compras”, uma vez que não se compra nada nesta terra muito depois das 18h.

A Kárita se encarregou de colocar fogo na galera enviando email com informações de Gorongosa e detalhes sobre as acomodações. O site é muito bacana e vendo dá uma vontade danada de ir correndo pra lá. A propaganda é mesmo alma de qualquer negócio e neste caso estão no caminho certo.
 
Corremos todos e só não tivemos maior adesão na comitiva porque não havia cabanas para todos no acampamento Chitengo, onde funciona uma espécie de Hotel em cabanas para os visitantes do parque.

Nos dias anteriores acertamos os carros, compramos combustível (aqui é assim – viaja-se cerca de 300 km sem um único posto de gasolina) – afinal, como não conhecíamos o desempenho dos carros preferimos prevenir – o CRV faria a sua primeira grande viagem, a estrada também e o terceiro carro era alugado, não dava pra prever. Confesso uma pontada fria no peito – O CRV é um bom menino, mas ainda não tinha rodado mais do que uma vinda ao projeto num dia de necessidade – pouco mais de 20 km.

Meu mecânico, Richard, um inglês de meia idade, morador de Tete há 11 anos e especialmente revoltado com algumas características da escassa mão de obra local para o business dele, chega a ser engraçado ao dizer em português arrastado que a “viatura é doce como limão”, referindo-se ao bom estado do pretão (CRV). Isso me tranqüilizou bastante e me apoiei nesta fala pra acreditar que tudo daria certo.

Nesse clima arrancamos de Tete às 4:40 da manhã de Sábado e seguimos em direção à província de Sofala cerca de 530km numa viagem que durou 9 horas. Tudo bem que paramos para lanchar, ir ao banheiro poooodre numa parada de estrada, ir ao banheiro de novo, abastecer em Chimoio e trocar pneu depois de 4 pregos malvados atingirem em cheio o pneu do Corolla dos nossos colegas assim que entraram no posto de gasolina em Chimoio, a 400 km de Tete. Coincidência ou não, a oficina de reparação de pneus (borracharia) ficava logo atrás do posto e tinha no mínimo 6 carros parados na mesma condição quando adentramos, o que nos leva a profunda reflexão!!!

Enfim, a estrada é bem asfaltada embora muito estreita e o tempo todo povoada de pequenas vilas de casas de taipas simplórias. Os moradores estão sempre fora das casas tentando a sorte de vender os produtos de suas machambas (roças) – são batatas, mandiocas, juta, carvão, pedras, galinhas e tudo o que conseguem ofertar aos passantes – Isto, porém, reduz o tempo da viagem uma vez que é necessário reduzir a marcha a cada nova vila, em segurança e respeito aos locais.

Estávamos a passeio e não nos importamos com o tempo. Em bons carros, mesmo muito tempo não é tão cansativo, sem contar que na ida tudo é festa e estávamos bem animados para conhecer de perto os big Five africanos – 5 mamíferos selvagens difíceis de serem caçados pelo homem - leão, elefante, rinoceronte, búfalo africano e leopardo.

Chegamos ao parque por volta de 12:30 e até que nos acomodassem decidimos almoçar no charmoso restaurante do acampamento. Comemos e logo nos instalamos rapidamente, afinal, faríamos nosso primeiro game, ou safári, chamado Pôr do Sol na Casa dos Leões! Êpa! Estávamos eufóricos!!! Máquinas a posto, chapéus, repelentes, agasalhos e tudo que bons brasileiros carregam nas tralhas. Ao nos aproximarmos do carrinho aberto do safári, porém, primeira decepção: Na lista do carrinho só constavam 3 nomes. Nossos 5 outros colegas teriam que seguir numa caminhonete improvisada o que já causou o primeiro estresse – puxa vida! A gente queria o carro de safári, né?!

Depois de uma calorosa discussão de uns 10 minutos seguimos para dentro da mata, nós 3 junto com outro grupo e os 5 numa caminhonete qualquer, por outra trilha.

Logo de cara vimos o primeiro bicho, um FACOCERO – ou Javali africano – espécie de porco do mato que tem pescoço curto, come de joelhos devido a pouca mobilidade de seu pescoço, alimenta-se de ervas rasteiras e vira comida de leão facilmente. Tem chifres curtos perto da boca e longos cabelos ao longo do dorso, uns meio aloirados, o que faz deles figuras pouco providas de beleza – são muito feinhos, coitados, chegam a ser engraçados. Estão por toda a parte no parque, somam cerca de 7000, vivem quase 20 anos e já se configuram uma praga, de onde os passamos a chamar carinhosamente pragoceros.

Em seguida, um belíssimo cenário de mata multicor em inúmeros tons de verde e amarelo se abriram diante dos nossos olhos e muitas aves, pássaros e pragoceros apareciam a cada metro percorrido, até que começaram a aparecer timidamente impalas, bambis, Kudus,galinhas da índia de pescoço azul, pelicanos e muitas outras variedades de impalas e bambis, com chifres, sem chifres, solitários, em bandos, com pintas na coxa, sem pintas na coxa, a perder de vista... Macacos também deram o ar da graça e sempre que perguntávamos sobre os tais big Five, o guia de fala mansa e desenhada respondia, é um parque natural, não podemos garantir encontrá-los.

Eu já havia me convencido de voltar para Tete sem ver os tais grandões, mas eis que um barulho na mata fez nosso grupo parar e procurar avidamente pelos elefantes anunciados pelo guia. E nosso desejo era tão grande que convidou nossa imaginação a desenhar nos troncos distantes elefantes imaginários que apelidamos, a exemplo do nosso amigo Sandro em Songo a ilusionar crocodilos, troncofantes! Ficamos ali uns 5 minutos enxergando troncofantes até que partimos, afinal, estávamos indo para o pôr do sol na casa dos leões!!!

Decepção número 3 a frente: Nosso guia para numa planície maravilhosa com um sol estupendo se pondo ao fundo e diz: Aqui é o vale do rift, região de inundação na época das águas, ao fundo a serra de Gorongosa e lá daquele outro lado, apontando com os olhos o lado esquerdo com uma ruína ao longe, é a casa dos leões. Mas temos um probleminha! Ai, que eu juro ter sentido um comichão imaginando o carro com defeito e os filmes de terror que eu via quando criança onde grupos inteiros ficavam perdidos em matas selvagens sendo comidos por leões até que alguém os encontrasse... Mas não era! Era quase tão ruim quanto... É que o sol vai se por em alguns minutos e não vamos chegar lá a tempo porque ficamos vendo troncofantes tempo demais!

Ahhhh, gente! Que raiva!!! Nós que estávamos extasiados demais para protestar e dar com o pau no Macadâmia (Ele tinha um nome parecido com isto!) – Puxa! Somos turistas, quem tem que dar o grito quando o tempo se esgotar é ele, eu sei lá a que horas o sol se põe? Muito menos onde é a casa dos leões!

Foi então que um integrante do nosso bando resolveu dizer, não, vamos logo, ainda que cheguemos atrasados, os leões não estarão lá?! E o nosso guia então disparou a decepção número 4: Não, não há mais leões lá! Há 40 leões no parque, mas estão nalgum lugar, não sabemos precisar onde.

Fomos nós então, entre trancos e solapadas do barulhento carro do safári em direção às ruínas do que um dia fora à casa dos leões, sem sucesso. Realmente, chegamos empatados com o último raquito de sol a baixar colorindo a paisagem de um tom deliciosamente agradável de ver e sentir... Pena não termos chegado a tempo, o cenário prometia beleza magistral.

Nossos colegas, de caminhonete, foram mais felizes e chegaram a tempo, sem contar que ainda conseguiram um guia que lhes contou mais da história do lugar.

Voltamos desejosos de que o próximo game, às 6 da manhã de domingo, trouxéssemos mais do que pragoceros e impalas diversos. À noite espantamos o frio na beira da fogueira e cantamos músicas brasileiras pra dividir com a saudade aquele ceuzão maravilhoso em cima de nós.

Pouco mais de 22h sentimos as luzes se apagarem – como é comum faltar energia em Moçambique não demos por conta de que o fato é estratégico – às 5:30 elas voltaram e é sempre assim. Poderiam ser mais claros, é melhor saber que vai acontecer do que ser pego de surpresa em casos como esse.

Chega o Domingo e todos de pé, dessa vez juntos no carro de safári rumamos ao desconhecido, por trilha aleatória na esperança de ver pelo menos o Five mor, elefante, já que 40 leões numa extensão de terras daquela jogava nossa probabilidade de vê-los pra muito perto de zero. E percebemos ao longo das conversas que o parque estava a alguns anos sofrendo intenso trabalho de restauração, fruto de uma iniciativa de um simpático investidor particular, pois, durante a guerra, as inúmeras espécies que compunham a bravia fauna de gorongosa foram completamente dizimadas. Pra se ter idéia, dos 14000 búfalos africanos registrados no período, apenas 14 unidades foram encontradas, e, como estes, tantos outros leões, elefantes, crocodilos, rinocerontes e tantos outros sofreram também.

Mais calmos e compreensivos com a conjuntura, entendemos os esforços e vimos beleza no passeio. Pudemos avistar e fotografar um pequeno grupo de elefantes, alguns crocodilos a tomar sol no rio, muitos macacos e ficamos cientes de que essa iniciativa irá render muitos frutos num futuro médio, coisa de mais 5, 10 anos e Moçambique terá sim um Parque ao nível dos grandes parques da África.

Voltamos logo após o almoço e finalizamos com sucesso nossa empreitada às 20:30 em Tete, com os carros em perfeito estado, as colunas avariadas pelo longo tempo sentados, o corpo e os olhos cansados de tanto procurar os big five e uma coleção de fotos que tento postar a seguir...

 
Aqui, aí ou em qualquer lugar, cabaninha...
Quanto maior o bagageiro maior a bagagem...
Tô falando!
Parada, banheiro, conferida no mapa e avante!
Cada um dá a sua descarga....
 (repare no balde ao lado da sanita - descarga manual)
Descansa carregando palha...

9 horas, 530 km e 1 pneu furado por 4 pregos depois...
Paisagem de arrepiar...
*
1º Game... Cadê os big five?
*

A lua estava um espetáculo a parte
* (Fogueira e vinho, música e a busca pelos big five)
* (Violeiros !)
Pragoceros por toda parte
Facocero, javali africano ou, carinhosamente, "pragocero"!
Cansei!
Ãhn... Cansei!
* (tô indo embora!)
Nas trilhas do parque...
São as paisagens mais lindas que já vi na vida
Lembram as descrições em livros que falam do paraíso
O Pôr do Sol que pagamos e não levamos!
* (Pose de Id Amin)
* (Lembrança mais próxima dos leões)
ou ossos do próprio, coitado... ;)
Um big five
Crocodilagem pura
*
Bambis
Banho de sol
Carro de safari

Está uma luta postar as fotos, a internet in jango é muito ruim e minha paciência ainda é de brasileira - publico estas e depois faço um post só de fotos de lá, ok ? Assim que conseguir publicá-las!

Créditos para algumas fotos da *Fernandinha Viana, minha colega de Hobby e por inúmeras vezes, fotógrafa credenciada do uaiafrica.com.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

É Pacífico?

Antes de eu vir para cá, por vezes me perguntaram se Moçambique é um país Pacífico.

E a minha resposta sempre foi do tamanho das informações que eu recebia dos amigos residentes ou das páginas que li falando a respeito. É um país tranquilo sim, sem dúvidas, ainda mais a contar pelos demais vizinhos pra lá de esquentadinhos...

O povo moçambicano é relativamente dócil, amistoso, mas, como qualquer povo recém saído de uma situação de guerra, ainda sente ferver nas veias o calor da luta, e, por conta disso, serve-se desse meio para fazer valer sua mal calada voz ao sentirem pesar sobre si as mazelas da desigualdade.

Desde que cheguei acompanho noticiário local, ouço a Rádio Moçambique e vira mexe ouvimos anúncio de algum aumento de preços, gasolina, energia elétrica, alimentos, nenhum escapa. Agora porém, eis que saltou no limiar do copo a gota que faltava - foi anunciado para 1° de Setembro o aumento do preço do Pão.

Nosso famoso pãozinho... Hummmm, dá até brejinho na boca lembrar daquele amarelinho quentinho derretendo a manteiga de tão quente... Pois foi esse inocente companheiro das manhãs e tardes brasileiras e moçambicanas o estopim da bomba!



Bummmmmmm...

Maputo acordou em guerra!

Convulsão social, distúrbios generalizados, caos, guerra, foram alguns dos nomes que ouvimos e lemos nas páginas de todos os veículos que conseguiram registrar as inúmeras manifestações que atingiram as cidades de Maputo e Matola no dia de hoje, deixando, segundo imprensa local, pelo menos 10 mortos, mais de centena de feridos e muita, muita sujeira e confusão por onde se andasse. E andasse a pé, porque de carro, machimbombo ou chapa era simplesmente impossível... Nem vôos sairam ou chegaram para se ter idéia da seriedade da coisa. Saques, apedrejamentos, guerras políticas, má fé, insatisfações mil, tudo se misturou à falta de clareza e diálogo confluindo num nó social antes visto em 2008 em protestos parecidos contra o abusivo aumento da gasolina, só estancado ao anúncio, por parte do governo, de um subsídio para financiar o prejuízo dos empresários e redução dos preços dos transportes coletivos.

2010... Onde e quando isto vai parar não se sabe.

Tete está a 1700km da capital Maputo e o único ar de que algo está diferente por aqui foi a curta bicha na ponte e quase nenhum movimento nas ruas costumeiramente lotadas a qualquer hora do dia ou da noite - Reflexos dos barulhos de lá? Cedo para saber, mas ao mesmo tempo, toda atenção é por demais necessária, afinal, somos "estrangeiros passageiros de algum trem"... E Pacífico, fica lá do outro lado meus amigos, aqui estamos no Índico!!!

A seguir, parte do noticiário local e algumas fotos da confusão entre joio e trigo!

http://www.opais.co.mz/
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=182748&tab=community
http://www.rm.co.mz/