Passadas as novidades do primeiro mês, em que cada final de semana tinha uma novidade, sabíamos que o final de semana não seria um evento, mesmo porque era véspera de dia das Mães no Brasil e continuamos com os meios de comunicação muito limitados, o que nos deixa ainda mais ansiosos.
Trabalhamos no sábado como de costume e voltamos conversando no ônibus, combinando um almoço fora do hotel, para quebrar a rotina. O sol estava quente e o céu limpo anunciava mais uma tarde "daquelas" em Tete. Paramos na fila da ponte e decidimos não descer justamente porque, naquele sol, ficaríamos rapidamente cansados e torrados durante a travessia com mochilas e bolsas.
Ficamos jogando conversa fora e observando o verdadeiro comércio formado ao longo da “bicha” ou fila da ponte. Vende-se de tudo – amendoim cru, cozido, torrado, biscoitos, refrescos (como chamam refrigerante), ovos cozidos e água. Água esta, torneiral, cuidadosamente envasada nas embalagens de água mineral que as crianças procuram pela rua afora e trocam com os vendedores, na sua maioria mulheres e crianças, por moedas de 500, ou 50 centavos de metical. A moeda aqui teve três zeros cortados a pouco tempo e não raro ouvimos alguém dizer que alguma coisa custa 500 ou 1000, quando na verdade é 1 ou ,50 de Metical. É assim: Eles recolhem as embalagens, e, sem cerimônia as enchem numa torneira próxima. Daí então as acondicionam em caixas térmicas ou coolers com gelo e vendem a cada interessado por 1MZN – equivalente a 0.05 centavos de real. Muitos moradores locais compram e bebem por ali mesmo, refrescando-se do calor infernal. As embalagens vazias vão sendo colocadas numa bacia ao lado até que o estoque chegue ao mínimo e vão ser novamente cheias. Um dia vi um rapaz tomando a água e olhando dentro da garrafa. Depois do segundo gole reclamou com a menina vendedora apontando para algum objeto não identificado e ganhou outra novinha, a qual tomou de uma ou duas goladas no máximo. Outra modalidade de água à venda é em galões amarelos na beira do canteiro que circunda a ponte. Ficam expostos com um único copo duplo por cima e a uma simples aproximação do cliente, a vendedora abastece o copo. Cada moeda de 1 MZN dá direito a 2 copos cheios da água e uma outra garrafa ao lado, também com água, porém, menos própria para o consumo, é utilizada ao final para dar aquela "lavadinha" no copo, que, naturalmente, servirá o próximo cliente daqui a pouco.
Fora isso, vimos crianças se divertindo brincando umas com as outras e vendendo seus refrescos em coolers coloridos. Um colega que queria uma cerveja chamou uma criança com o cooler, mas ele só tinha refrescos. Seu nome era Genito e muito solícito, ofereceu-se para buscar uma na "venda” do outro lado. Disse um preço, mais do que deveria custar, mas ainda menos do que nos restaurantes da cidade e foi correndo, deixando o cooler em nossa responsabilidade ao lado da janela do machimbombo.
Minutos depois voltou correndo com duas cervejas geladas na mão, para nosso espanto, afinal, o colega só pedira e dera dinheiro para uma. Perguntou a ele então o por que das duas cervejas, e ele, apontando pra mim, disse sorrindo: Uma é para ela, mas vai ter que dar os 35, referindo-se ao valor cobrado pela cerveja. Caímos na risada com a presença de espírito do menino e fiquei com a cerveja, paguei por ela deixando sobrar uma beiradinha para valer a correria dele no sol escaldante e o feeling empreendedor que, percebeu no meu sorriso que eu não negaria de pagá-lo caso trouxesse mais de uma cerveja.
Ainda ficamos na fila tempo suficiente para comprar 5 belas maçãs na mão de outro vendedor, procurar amendoim torrado para acompanhar a cerveja – não tinha - e fotografar o Genito, que, sempre sagaz perguntou-me: Vai me trazer a foto no domingo? Infelimente não teria como fazê-lo, mas prometi a ele levá-la impressa na segunda a noite, no mesmo local.
Vimos também uma família de porcos, ali, bem ao lado, “pastando” ou procurando por comida, em meio a quem quisesse passar por perto.
Finalmente a ponte abriu e seguimos nosso caminho.
Já cansados da espera e sem tantas opções na cidade, decidimos por almoçar o bufe do hotel mesmo, fraco para nosso paladar mas verdadeiro banquete para a esmagadora maioria da população local de Tete que, por mês não recebe nem o correspondente por uma refeição com refrigerante – 500 MZN.
A tarde passeei pela cidade, deserta e de comércio todo fechado, como sempre acontece nos sábados, tudo fecha ao meio dia.
Jantamos no Italiano, ali mesmo perto do Hotel e depois fizemos festa do pijama, cada um no seu quarto, claro!
Esse é o Genito, cheio de pose!
Bonitão!
Família de porcos lá no meio...
Comércio de água...
Comércio ao longo da fila...
Jantar no Italiano...
Eu e o Bruno,
Pai, essa vou levar para tomarmos juntos!
Turma reunida!