segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Casa nova x Niver do Jorginho na Mickey´s House

Depois de me esbaldar entre os lençóis e toalhas creme do Zambezi Palace, melhor acomodação de Tete, finalmente estou morando numa casa.
 
Já falei em algum momento neste blog o quanto é complicado conseguir casa em Tete. Não há (ainda) muitas opções e as poucas disponíveis apresentam problemas dos mais variados, desde vizinhança com o esgoto a céu aberto até distância horrorosa da parte central da cidade, passando por problemas estruturais, de beleza, enfim... Morar numa casa nos rincões da África, merece um tempo de acostumação e adaptação com o local e uma profunda quebra de paradigmas, profunda mudança de conceitos...
 
Lembra dos mergulhadores, que, depois de passarem tempo no fundo do mar precisam ficar em câmaras de descompressão antes de voltarem a respirar ? E sabe aquela história de, você precisa rever seus conceitos?
Então... Tete é um bom lugar pra exercitar isto. É a verdadeira câmara de descompressão das coisas do mundo, excelente oficina de revisão de conceitos.
 
Logo que cheguei aqui, na primeira semana, saí com uns colegas para ver algumas opções de casas para morarmos em esquema de república ou mesmo sós. Meu Deus! Eu ainda trazia modelados os conceitos de moradia do Brasil, os conceitos de bairro, vizinhança, infraestrutura, saneamento... Quase surtei! Bastaram 3 olhadelas sem grande profundidade para eu achar o Hotel Zambezi um lugar perfeito para viver! Desisti e fiquei por lá apreciando cada novidade até sentir que meus conceitos estavam mais educados para os padrões locais.

Foram dias, meses de procura até surgir uma casa cujas características se aproximassem daquela idéia na cabeça - a idéia do Lar! Claro que foi preciso uma série de concessões, né? A gente fecha os olhos para o entorno, para o lado de fora, para o esgoto e para uma ou outra coisa que não bate bem com as nossas intenções, mas, enfim, achamos a casa ideal! E fica bem ao lado de uma das Mesquitas da cidade!!! Há quase um mês eu ouço o grito e pulo correndo no tapetinho da beirada da cama, de costas pra Buda, frente para alá e oxalá coisas boas se derramem em nossas vidas...
Brincadeiras a parte, mudar para uma casa mudou o bico do boné das minhas inquietações para outro lado. Parei de me preocupar com as lagartixas do Zambezi para me dedicar ao extermínio das milhares de microbaratas da Casa Mesquita. Parei de me preocupar com a cor e a limpeza das roupas de cama e banho do HZambezi para me preocupar com coisas do tipo: Empregada comendo meu Nutella importado de Johannesburgo, guarda boicotando a água do banho, jardineiro que não aparece, baratas que só nascem - crescem e se multiplicam, nunca morrem e mais uma coleção de coisas diferentes daquelas com as quais eu nunca quis me acostumar no canto antigo.

Pra completar e justificar o nome do post, eis que um dia desses eu ia caminhando lentamente para a cozinha pegar uma água e fui interrompida pela corridinha solta de um mickey, preto, gigaaaaannnnteeeeee (do tamanho da minha ogeriza!)...
Bom, passado o susto inicial, meu e dele, desisti da água e da vida, tranquei a porta de acesso à cozinha e fui dormir. O dia seguinte merecia um post inteirinho para falar da ladainha pra se conseguir um matex (como chamam os mata ratos aqui) - ai como chorei o vidro de chumbinhos do meu Tio Mauro! Resumindo então, às 21h o Fernando, amigo, chegou em casa com os remédios e eu e o guarda, a essa altura de plantão lá dentro de casa pra matar o bicho caso aparecesse (filho da mãe só apareceu quando cheguei da rua). Araújo e eu cuidamos delicadamente do banquete dele misturando o remédio a pedaços de banana e ficamos na expectativa da captura.

Dia seguinte e o prestimoso Araújo subiu no armário feito um touro, contando as iscas - tinham que ver o sorriso largo dele voltando o rosto pra mim e dizendo: As de lá continuam, mas as de cá já não estão mais, como quem diz, ele mordeu a isca!

Foi mais um dia inteiro de grandes emoções e bingo! O meliante estava morando atrás da geladeira, perto do motor, a esta altura, com os sacos de isca em seu redor... Depois da investida fatal dos meus ajudantes, pimba! Ele mor-reu! Pusemos nome nele e tudo: Euzébio! E a casa, desde então, passou de casa Mesquita a Mcikey´s house!!!
Bom, papo de ratos a parte é importante dizer - nesse mesmo lote de novos problemas vieram também as novas alegrias... Minha companheira de casa, a valéria é um doce de pessoa! Diarréias nunca mais! Agora eu mesma faço a comidinha, tem jantar novo todos os dias, tem banho direito - sem esbarrar na parede, no outro canto da banheira, sem pedir pelo amor de Deus uniformidade pros pingos d´água, tem roupas nos armários sem correntes, sem cadeados nas malas, ehhhhhh!!! Tem cara de lar mesmo!

As coisas que atropelam, vamos administrando e pouco a pouco conseguimos vida de mais qualidade em Tete - o que é muito bom para quem está tão longe de casa e sente tanta falta da pátria amada Brasil!
A seguir fotocas do niver do nosso amigo Jorge Nolasco, comemorado em minha casa nova na última quinta-feira, no melhor estilo festa surpresa. O Giba armou, eu topei e daí para a coisa acontecer foi só levar o Joginho, facinho facinho para a bagunça rolar até as 3 da manhã.
E vocês pensam que terminou? Que nada!

Com a bendita fibra ótica reconstituída e tanta história pra contar, este blog renasce em grande estilo e volta trazendo as novas e as velhas de Tete, pelo menos até Abril de 2012, espero!

Obrigada a todos pela paciência de entrarem por vários dias sem grandes novidades, mas viver na África é assim, cada dia uma nova emoção... E o próximo capítulo há de vir!

Ai, Laurentina!
Do lado de fora rolou até truco!
Com a Kárita

Teve bolo e tudo!

Parabéns pra você com musiquinha e tudo...
A chuva cai...
A rua inunda...
Oh Jorginho eu vou comer seu bolo!!!


 
A gente ganhou o primeiro pedaço!