domingo, 25 de abril de 2010

Festival de NYAU em Chiuta - Tete - Mz

O Nyau ou “Gule Wankulo” é uma dança exótica milenar praticada por homens das comunidades situadas ao norte do rio Zambeze e adquire conotações diferentes de acordo com a ocasião em que é praticada, se em rituais de iniciação masculina, cerimônias fúnebres ou por puro entretenimento. Nyau significa o próprio dançarino, quando já paramentado por suas vestimentas e adornos e “Gule Wankulo”, "a grande dança".

Sua origem está associada ao surgimento do Estado Undi em meados do século XVII - essa manifestação popular de elevadíssimo valor cultral corre risco de extinção e é ameaçada pelo progresso do mundo globalizado avançando sobre terras africanas, pela educação formal cada vez mais substituindo a tradicional limitando a transmissão do conhecimento da dança entre as gerações, assim como pela constante migração do homem do campo para a cidade e entradas culturais do mundo globalizado nas culturas tradicionais.

Reconhecida toda a sua relevância como meio de integração social e ajustamento dos comportamentos individuais do sujeito às suas raízes, regras e normas da sua comunidade bem como por seu valor universal ao preservar propóstitos culturais típicos dos grupos étnicos Chewa, Achipetas e Azimbas, foi considerada pela UNESCO, em novembro de 2005 como “Obra-Prima do Património Oral e Intangível da Humanidade" e desde então ingressou na lista das 90 obras protegidas pelas nações unidas.

Esta dança, que até hoje tem caráter secreto e impenetrável, exclusivista em sua mais profunda essência é praticada por povos ao norte de Moçambique, bem como Zâmbia e Malawii, todos beneficiados pela proclamação, seguiram no último sábado mostrando ao mundo sua misticidade e africanidade no quinto festival de Nyau de Chiúta, distrito de Tete que fica situado no caminho que liga esta província `a Zâmbia.

Reunidos desde cedo e aguardados por uma multidão de curiosos ávidos por aquele acontecimento, homens do distrito anfitrião Chiúta, bem como de Angónia, Macanga, Moatize, Chifunde, Zumbo, Tsangano, Marávia e do Malawi, exibiram seus corpos lambusados de lama (negra, branca e vermelha) e adornados por vestimentas cobertas dos mais intrigantes adereços confeccionados com penas, chitas de trapos e sacos, fibras de árvores e outros materiais locais. Com os rostos parcial ou completamente cobertos por máscaras que compõem o figurino exótico, exibem suas formas ao público em passos rápidos e bem coordenados, frenéticos e estonteantemente acompanhados por tambores que soam melodias e cânticos na retaguarda.

Dizem por aqui que não é o homem que acompanha o tambor, mas o tambor que tem por obrigação acompanhar o dançarino de Nyau, que, registre-se, não é tarefa fácil... Sozinhos, aos pares ou em grupos maiores eles entram no palco a céu aberto bem no centro da área de apresentação e dão um verdadeiro show de passos e gritos que lembram sons pássaros e outros animais, imitam gestos sensuais e eróticos e transpiram essa cultura intrigante e encantadora, genuinamente africana. Nossos olhos são atraídos por tamanho espetáculo... E, "Por outro lado, o Nyau é igualmente um símbolo de contestação das comunidades locais, primeiro contra a invasão Nguni e depois contra a presença colonial portuguesa, esta aliada à Igreja Católica." Manifestação que pode ser percebida em suas vestes e máscaras brancas, amarelas e caricatas, bem como pela reação eufórica da platéia atenta e boquiaberta do lado do alambrado improvisado, aos risos vistos quando a dança tenciona "tirar um sarro" dos portugueses e missionários católicos.

Ao mesmo tempo em que demonstram uma manifestação artística e cultural de valor inestimável, o Nyau também é símbolo da resistência desses povos à dominação portuguesa e até hoje mantém traços dessa resistência, na medida em que afasta ainda nos dias de hoje, algumas crianças da escola, afim de praticar a dança em sua poção mais genuína.

A parte discussões socio-políticas acerca dessa maravilha, o Nyau que presenciamos no 5º Festival de Chiúta foi para os meus saudosos olhos, um verdadeiro espetáculo e fiquei muito lisonjeada pela oportunidade de participar assistindo e registrando o que até o momento, para mim, foi a mais tocante e envolvente expressão da cultura africana e que passo agora a dividir com vocês em algumas fotos. Espero que gostem!

Beijos,

Algumas estatísticas sobre Chiúta:

Distrito a cerca de 75km de Tete capital, com aproximadamente 67000 habitantes, dos quais, 54% são mulheres, de economia marcadamente rural...
91% da população é analfabeta e 84 % não fala português
99% da população reside em palhotas - 100% sem água encanada
Fonte: Perfil do distrito de Chiúta - ed.2005

Abaixo as palhotas - habitação de chão batido, parede de caniços de paus e teto de capim

Criança na estrada em cima de um saco de milho


Mini pastores




Aqui as crianças começam a trabalhar muito cedo...



As delegações se apresentando ao público no começo do festival

Os Nyaus e suas máscaras durante a “Gule Wankulo”,


A platéia não perde nada, boquiaberta...


Muitas supresas durante a frande dança, cada delegação apresenta
diversas coreografias interessantes e diferentes...

A chuva desaba mas ninguém arreda pé do palco...

Nem da platéia


A chuva dá trégua e a festa continua...

Todos muito atentos a cada movimento...

O que parece um espantalho é um Nyau no ponto mais alto de um poste...

Taí...

Mais chuva e nada de ninguém sair...


Bom, espero que tenham gostado... Tentei postar mais fotos mas a internet aqui é um espetáculo e leva horas pra carregar uma foto mais do que redimensionada, aí já viram, entre uma interrupção e outra, uma queda e outra, levei o dia todo para postar só estas... Vou tentando e na medida do possível, postando mais...

Beijos mil...