quinta-feira, 29 de abril de 2010

Em Tete, sem telefone e sem internet...

Segue abaixo, íntegra da notícia extraída do http://www.jornalnoticias.co.mz/

Enquanto isso na banca de frutas...

"Era uma banca muito engraçada ... Não tinha frutas... Não tinha nada..."

As maçãs, provavelmente eram as mesmas do começo da semana retrasada e já davam sinais do fim da vida. Nenhum outro exemplar e alguns refugos na caixinha ao lado anunciavam as baixas da semana... Mamões, mangas e outras que não fixei apodrecidas, ou apodrecendo... Também, nesse calor não há fruta que resita!

Tudo bem que Tete viveu uma semana de baixas temperaturas em relação ao seu habitual clima quente de todos os dias e por todo lado podemos ver crianças e adultos de camisolas, ou blusas de frio, como falamos em nossa terra... E grifem, estamos com 30º hoje!!! Pior que até nós estamos achando o clima ameno, rs...

Muito quente ou de clima agradável, fato é que as frutas não eram mais o atrativo da banquinha do Alfredo...

Já íamos saindo quando alguém perguntou à filha dele, fiel guardadora da banca:  Isso é castanha de caju?

E ela logo respondeu:

- Sim, são castanhas (Aqui eles puxam o S para o X em algumas palavras, dá até pra entender o porque dos cariocas também o fazerem... Não tenho certeza, vou estudar melhor o assunto mas presumo que possa ter raiz na herança portuguesa... Disse então, ao ton do sotaque: - Sim, são caxtanhaxs!

E todos nos voltamos juntos, como abelha no mel, rsrsrs...
- Ôpa! Quanto custam ????

E ao preço de MZN 50.00 ou o correspondente a R$3.00, levamos felizes o exemplar ilustrado abaixo.

Não se empolguem, não é a W1 do Mercado Central nem a "maiomeno" de outros lugares, mas sabe que quebrou bem o galho e fez a alegria da galera???


Vem escrito 500g no saquinho, mas juro que não pesam isso! :)

Eu estava devendo as fotos do cartão do Silêncio, taxista!

Quem precisar de um taxista em Tete, recomendo Silêncio!





quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bem obrigado e não percebi...

Mais uma pérola moçambicana...

Moçambique tem por lígua pátria, Português - de Portugal, que, mesmo tendo enormes semelhanças com o nosso e de bom entendimento em relação a outras línguas faladas no mundo, guarda também diferenças no significado de palavras que em nosso vocabulário possuem outro significado.

Eu, particularmente acho isso muito atraente e como já disse num post desses para trás, sinto enorme atração pelo modo como falam, principalmente porque pronunciam certinho e empregam os verbos muito bem, pronunciam muito bem, enfim, não sei explicar, mas gosto de ouvi-los falando.

Daí, sempre que vem alguém à sala fazer limpeza ou repor algum material puxo logo assunto para ouvi-los, sobretudo quando pergunto se estão bem... Sempre respondem rapidamente, sem pestanejar e sorrindo: - Bem, obrigado!

O mais interessante é que às vezes falam muito rápido, e, como nós, uma palavra emenda na outra e a frase sai meio assim, "bembrigad"! Adoro, rsrsrs... 

Pena que não dá pra colocar um videozinho, mas é bem legal!

Há de vir...

Lembra daquela história de que, quando um mineiro diz que é ali, você pode andar mais 3 km tranquilo e ainda corre o risco de não ser?

Pois é... A Mama África guarda também, mais essa semelhança com o Brasil.

Logo que chegamos comecei a perceber que tinha algo muito peculiar nesta expressão e que eu precisava entender melhor, afinal, quando eu fazia uma pergunta a algum moçambicano e tinha como resposta: - Há de vir. A coisa nunca chegava!!! rsrsrs...

No restaurante do Hotel mesmo, nos primeiros dias, cheguei para jantar e uma cuba estava vazia. Como a refeição não estava tãaao apetitosa eu perguntei:

- Virá mais algum prato para esta cuba ?

A garçonete, com cara de menos amigos respondeu prontamente:

- Batatas.

Eu, pouco satisfeita com a resposta, puxa vida, estava com fome e queria saber se as batatas viriam logo, inquiri de novo:

- Demoram?

Ela, na mesma satisfação de sempre, apenas com um sorrisinho liso a mais no rosto, disse-me:

- Há de viiiir ! 

E saiu andando, como quem diz, espeeera, vocês são apressados demais!!! :)

Bom, sentei-me e passei a olhar para a cuba, com uma inquietação típica das crianças que não tem sofrimento de esperar por nada que desejam, querem tudo pra ontem, mais ainda se o assunto for apetitoso, rsrsrs... E até economizava nas garfadas pra esperar a tal da batata!

Ai gente... Não deu muito certo e eu esperei, esperei e esperei ... A pouca comida que restava esfriou e nada da batatinha. Chegamos a comentar de forma bem humorada que tinham ido colher a batata, como fazemos no Brasil nos referindo a tudo o que demora mais de 30 segundos, rsrsrs...

Foi quando um colega que já está aqui a um tempo maior chegou e ouviu o caso, soltou aquela gargalhada e disse:
- Gente! Esqueçam... Quando alguém diz "há de vir" podem sentar e esperar mesmo, a chance de não vir é grande!!! rsrsrs... Ai ai... Rimos juntos e encerramos a noite, sem as batatas, claro, outro dia quem sabe elas chegam!

Agora já virou jargão. Se alguém pede alguma coisa que não dá pra entregar rápido dizemos logo:
- Há de viiiiiiir!

Como o ali, dos mineiros, o "há de vir" já é marca registrada dos moçambicanos...

O próximo post, quando sai?

- Há de vir!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ponto alto da Segunda...

Segunda-feira é um dia daqueles em qualquer lugar do mundo, na África não é diferente.

A gente acorda pensando em tudo o que há pra fazer e a semana vai logo pesando sobre os ombros de manhã mesmo.

Depois de um final de semana inteiro sem internet ficamos a espera do que estava por vir... Fila na ponte e sol na cabeça, rsrsrs...

Engano !

Tete ontem já nos brindou com o ponto alto da segunda logo cedo. Passamos direto na ponte sem parar nenhuma horinha, rsrss...

Tudo bem que chegamos no projeto e não havia telefone nem internet funcionando, mas aí também é querer demais, né? rs... Pois é, assim passamos o dia, com os recursos de internet limitados e sem telefones, como estamos até hoje, por causa do rompimento de fibra ótica em algum ponto distante daqui cerca de 7, 8 horas, em Vilanculos, por favor, não me perguntem onde é...

A noite, outra boa surpresa! Ponte aberta de novo!!!
Tudo bem que chegamos no Hotel e não tinha internet - sem telefone também, fomos todos jantar juntos e aproveitamos pra rir da própria sorte até nos fartarmos, depois fomos dormir cedo para o dia chegar logo!

Hoje, terça-feira, a sorte enviesou - ficamos mais de 40 minutos parados na ponte. Bom, enviesou, mas não virou de vez, afinal, o dia está nublado e o tempo frio aos olhos dos moçambicanos. Estamos com uns 25º lá fora e já vimos moçambicanos de blusas de frio, daquelas grossas, rsrsrs... Ou, "camisolas", como chamam os agasalhos, hehe!!!

Essa diferença nos termos já nos rendeu risadas por aqui. Num dos primeiros dias em Tete alguém veio se referir ao Songo, distrito onde fica situada a hidrelétrica de Cahora Bassa, perto daqui, dizendo que pra ficar lá era preciso levar as camisolas... Olhamo-nos, tipo: Atirado ele, né? Até que alguém pediu maiores explicações e rimos todos ao saber o significado pra eles e explicar o significado das mesmas no Brasil, rsrsrs... Nossas camisolas são para eles, camisas de dormir!

É isso, as diferenças existem mesmo com tamanha semelhança na língua e torna as coisas até interessantes, cômicas, muitas vezes ...rsrsrs... Já pensou se alguém resolve levar as camisolas para o songo e não leva nenhum agasalho? Hehehe!

O bacana é que temos mania de achar que o nosso jeito é que é o certo, nossa forma de falar que é a melhor ou mais certa, quando na verdade não tem nada disso, pelo contrário, aqui, fala-se um português com as conjugações mais perfeitas que já ouvi, inclusive nas camadas menos favorecidas, o idioma é gramaticalmente bem empregado por todos, dá inveja em professor de português do Brasil... Sem contar o sotaque, do qual gosto bastante - vira e mexe fico perguntando coisas só pra ouvi-los responder, rsrs...

Um colega me contou que estava num lugar outro dia e ouviu umas crianças discutindo, tentando descobrir que dialeto eles falavam, hahaha... Ele então explicou que falava Português, mas eles não acreditavam, ora bolas, português falavam eles! Aí ele explicou, que o nosso português é diferente do português de Portugal e que os regionalismos o tornavam ainda mais diferente, etc etc etc, o que os deixou um pouco mais crédulos... De qualquer forma, sairam aos risos, ainda duvidando se não era mesmo um dialeto aquilo, rsrsrs...

Aos poucos vou postando outras pérolas, são muitas!

Beijos a todos, saudade!

E nas ruas...

Para conhecerem o caixa eletrônico do banco daqui...

Existem outros nas ruas, praticamente todos assim. Muito comum passarmos na rua em dias que antecedem datas de pagamento e vermos longas filas, longas mesmo, de pessoas esperando para sacar seus Meticais!

Estão vendo porta giratória, detectores de metal ou segurança por perto?

Esta é a avenida mais movimentada de Tete, lembrando que estamos na capital da província!
Foto tirada por volta das 20:30 de uma quarta-feira.





E as pessoas passam tranquilamente ...


This is África! ; )

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Cenas & Expressões moçambicanas em Chiúta...


































Este é o Manuel Pedro e também é Moçambicano!

domingo, 25 de abril de 2010

Festival de NYAU em Chiuta - Tete - Mz

O Nyau ou “Gule Wankulo” é uma dança exótica milenar praticada por homens das comunidades situadas ao norte do rio Zambeze e adquire conotações diferentes de acordo com a ocasião em que é praticada, se em rituais de iniciação masculina, cerimônias fúnebres ou por puro entretenimento. Nyau significa o próprio dançarino, quando já paramentado por suas vestimentas e adornos e “Gule Wankulo”, "a grande dança".

Sua origem está associada ao surgimento do Estado Undi em meados do século XVII - essa manifestação popular de elevadíssimo valor cultral corre risco de extinção e é ameaçada pelo progresso do mundo globalizado avançando sobre terras africanas, pela educação formal cada vez mais substituindo a tradicional limitando a transmissão do conhecimento da dança entre as gerações, assim como pela constante migração do homem do campo para a cidade e entradas culturais do mundo globalizado nas culturas tradicionais.

Reconhecida toda a sua relevância como meio de integração social e ajustamento dos comportamentos individuais do sujeito às suas raízes, regras e normas da sua comunidade bem como por seu valor universal ao preservar propóstitos culturais típicos dos grupos étnicos Chewa, Achipetas e Azimbas, foi considerada pela UNESCO, em novembro de 2005 como “Obra-Prima do Património Oral e Intangível da Humanidade" e desde então ingressou na lista das 90 obras protegidas pelas nações unidas.

Esta dança, que até hoje tem caráter secreto e impenetrável, exclusivista em sua mais profunda essência é praticada por povos ao norte de Moçambique, bem como Zâmbia e Malawii, todos beneficiados pela proclamação, seguiram no último sábado mostrando ao mundo sua misticidade e africanidade no quinto festival de Nyau de Chiúta, distrito de Tete que fica situado no caminho que liga esta província `a Zâmbia.

Reunidos desde cedo e aguardados por uma multidão de curiosos ávidos por aquele acontecimento, homens do distrito anfitrião Chiúta, bem como de Angónia, Macanga, Moatize, Chifunde, Zumbo, Tsangano, Marávia e do Malawi, exibiram seus corpos lambusados de lama (negra, branca e vermelha) e adornados por vestimentas cobertas dos mais intrigantes adereços confeccionados com penas, chitas de trapos e sacos, fibras de árvores e outros materiais locais. Com os rostos parcial ou completamente cobertos por máscaras que compõem o figurino exótico, exibem suas formas ao público em passos rápidos e bem coordenados, frenéticos e estonteantemente acompanhados por tambores que soam melodias e cânticos na retaguarda.

Dizem por aqui que não é o homem que acompanha o tambor, mas o tambor que tem por obrigação acompanhar o dançarino de Nyau, que, registre-se, não é tarefa fácil... Sozinhos, aos pares ou em grupos maiores eles entram no palco a céu aberto bem no centro da área de apresentação e dão um verdadeiro show de passos e gritos que lembram sons pássaros e outros animais, imitam gestos sensuais e eróticos e transpiram essa cultura intrigante e encantadora, genuinamente africana. Nossos olhos são atraídos por tamanho espetáculo... E, "Por outro lado, o Nyau é igualmente um símbolo de contestação das comunidades locais, primeiro contra a invasão Nguni e depois contra a presença colonial portuguesa, esta aliada à Igreja Católica." Manifestação que pode ser percebida em suas vestes e máscaras brancas, amarelas e caricatas, bem como pela reação eufórica da platéia atenta e boquiaberta do lado do alambrado improvisado, aos risos vistos quando a dança tenciona "tirar um sarro" dos portugueses e missionários católicos.

Ao mesmo tempo em que demonstram uma manifestação artística e cultural de valor inestimável, o Nyau também é símbolo da resistência desses povos à dominação portuguesa e até hoje mantém traços dessa resistência, na medida em que afasta ainda nos dias de hoje, algumas crianças da escola, afim de praticar a dança em sua poção mais genuína.

A parte discussões socio-políticas acerca dessa maravilha, o Nyau que presenciamos no 5º Festival de Chiúta foi para os meus saudosos olhos, um verdadeiro espetáculo e fiquei muito lisonjeada pela oportunidade de participar assistindo e registrando o que até o momento, para mim, foi a mais tocante e envolvente expressão da cultura africana e que passo agora a dividir com vocês em algumas fotos. Espero que gostem!

Beijos,

Algumas estatísticas sobre Chiúta:

Distrito a cerca de 75km de Tete capital, com aproximadamente 67000 habitantes, dos quais, 54% são mulheres, de economia marcadamente rural...
91% da população é analfabeta e 84 % não fala português
99% da população reside em palhotas - 100% sem água encanada
Fonte: Perfil do distrito de Chiúta - ed.2005

Abaixo as palhotas - habitação de chão batido, parede de caniços de paus e teto de capim

Criança na estrada em cima de um saco de milho


Mini pastores




Aqui as crianças começam a trabalhar muito cedo...



As delegações se apresentando ao público no começo do festival

Os Nyaus e suas máscaras durante a “Gule Wankulo”,


A platéia não perde nada, boquiaberta...


Muitas supresas durante a frande dança, cada delegação apresenta
diversas coreografias interessantes e diferentes...

A chuva desaba mas ninguém arreda pé do palco...

Nem da platéia


A chuva dá trégua e a festa continua...

Todos muito atentos a cada movimento...

O que parece um espantalho é um Nyau no ponto mais alto de um poste...

Taí...

Mais chuva e nada de ninguém sair...


Bom, espero que tenham gostado... Tentei postar mais fotos mas a internet aqui é um espetáculo e leva horas pra carregar uma foto mais do que redimensionada, aí já viram, entre uma interrupção e outra, uma queda e outra, levei o dia todo para postar só estas... Vou tentando e na medida do possível, postando mais...

Beijos mil...