quarta-feira, 21 de abril de 2010

O dia em que os crocodilos estavam de "home leave"!

Home leave, ou, "home livre", como é vulgarmente conhecido por nós, é o período que temos, de acordo com nossos contratos, para ir ao Brasil visitar a família e os queridos que por lá deixamos... É uma recarga de baterias que podemos utilizar para ir de volta pra casa ou viajar pra onde bem entendermos. Alguns vão uma vez pra casa e outra aproveitam para ganhar o mundo, numa oportunidade, talvez única, de conhecer outras paragens...

O certo é, que, querendo ou não estamos sempre nos lembrando, desejando e por que não, contando os dias para o home leave, ou, a ida pra casa! A saudade é muito grande e explica tamanho gosto pela tal escapadinha, rsrsrs...

Bom, explicado o conceito, vamos de Zambeze!

No dia marcado, domingo, 8:30, ainda lembrando da festa de aniversário do dia anterior, encontramo-nos no hall do hotel para juntos irmos de táxi até os fundos do Motel Tete, de onde partiria o barco do passeio. Nós não sabíamos bem como funcionava, só sabíamos que era um passeio 0800 num barco fretado por uma das empresas do projeto e que o nosso nome já estava na lista de passageiros, graças ao colega que nos deu a dica no dia anterior...

Bem na frente do Hotel haviam alguns homens parados perto de uns carros comuns - aqui não se vê táxis regulamentados como no Brasil, nem tuk tuk´s como em Maputo, são locais que alugam seus carros a particulares... Uns bons, outros piores, outros, bem piores...

Bem, combinamos o preço annnntes, porque aqui, combinado não é caro e entramos satisfeitinhos no carro, com destino ao Motel Tete. Como não sabíamos bem onde era, observávamos tudo atentos pra ver se aparecia um barco em nosso olhar pra pedirmos ao taxista, que a esta altura já nos dera seu cartão contendo seu nome e telefone (um cartãozinho da operadora de celular que posto abaixo - atenção para o nome do moço... SILÊNCIO). Acho que já disse, mas vale repetir, aqui as pessoas tem nomes do tipo, "raiva", "trabuco", “alface”, “sabonete”, “zefênia”, “almoço” e muitos mais, herança maldita dos portugueses que não os deixavam registrar seus filhos com os nomes tribais com os quais costumavam chamar seus descendentes, nem tãopouco com os nomes comuns aos portugueses, de modo que ficavam a mercê dos escrivãos, que, maldosamente, decidiam por eles e decretavam: - Vai se chamar Sabonete! ou Silêncio, como no caso do nosso taxista, ou outra aberração qualquer... Eles, sem saber o significado ainda perpetuaram este hábito por muitos anos e só recentemente vêm perdendo este costume.

Parêntese a parte para registrar o caso Silêncio, já estávamos quase na porta do Motel quando Silêncio apontou o carro pra entrar e nós, mais do que depressa: - Não senhor! Não precisa entrar, nós vamos é no passeio de barco, atrás, não é aí dentro... Claro, que, pra nós, ou pelo menos pra mim o espanto era o que poderia causar nos outros a entrada de 3 meninas e 1 homem num Motel logo cedo, né? rs... E apeamos mais do que depressa! Andamos para um lado e pro outro e nada, até que alguém resolveu ligar para o contato e tirou a prova... o negócio era mesmo nos fundos, de modo que teríamos que entrar no Motel, mas poderíamos ficar tranquilos, porque aqui, hahaha, Motel é só um lugar de dormir, rsrsrsrs...

Ai ai... Rimos muito e já muito suados, porque nesse dia, como em todos os outros, o calor estava firme, presente e bem forte. Não fosse o boné emprestado e o filtro solar, sei não!

Mas a vontade de ver os bichos era tanta que logo entramos pro Motel a dentro e avistamos o Milton, que seria nosso guia e mais que depressa nos colocou sentados pra aguardar mais duas pessoas que ainda viriam.

No máximo 10 minutos depois entramos no barquinho... barquinho mesmo! Uma voadeirazinha, tipo lanchinha, com dois motores pequenos e 7 pessoas dentro, mal dava pra respirar e a água do Zambezão nos lambia as pernas toda hora! Meu Deus! Aquilo tava cheirando a programa de índio!

Nem questionamos, mas intimamente pensávamos se combinaria o crocodilo daquele tamanhão com aquele barquinho cheio, não dava nem pra gritar!

Minutos depois o barulhentinho já cortava o rio e a outra margem ficava distante... passávamos numas mini ilhas que se formam com bastante mato no meião do rio e avistamos um barcão, mais de 4 vezes maior parado na outra marge e perguntamos: Vamos mudar de barco? O barqueiro sorridente disse-nos: -Sim!

Ai que alívio!!! Até rimos e pulamos de um para outro com enorme destreza!

Esse sim era mais espaçoso, tinha cadeirinhas e todos colocamos guarda-vidas assim que entramos. Tinha até água e coca cola pra espantar o calor e o capitão desse outro possuía um aparelho, espécie de sonar com o qual ia nos contando de cardumes de peixes, muitos e bancos de areia perto de nós.

O Zambeze, embora seja o maior rio de toda a África, depois da barragem de Cahora Bassa ficou muito assoreado, e, em Tete, tem entre 1 e 4 metros de profundidade apenas, o que nos assustou muito, uma vez que, com o volume de suas águas e tamanha largura, parecia-nos muito mais profundo.

O passeio transcorria muito bem, em meio a muitas fotografias de tudo o que víamos, e o que mais víamos eram pessoas se banhando, lavando roupas e panelas na beira do rio, hábito muito comum por aqui, até porque a maioria da população não recebe água encanada, serviços de esgosto, energia ou outros benefícios básicos, direito de todo ser humano. Chega a chocar um pouco mas é isso mesmo, o mesmo rio que é banheiro é chuveiro, serve pra lavar roupas, panelas e irrigar as plantações. E, se bem aqui tem uma comunidade usufruindo de todas essas citadas possibilidades, a poucos metros a outra e outra e outra, o que, imagino, faz do Zambeze uma miscelânia daquelas...

Enfim, tudo atraía nossos olhares sim, mas o que queríamos mesmo eram os grandões, os crocodilos e hipopótamos, mas o tempo passava, Tete ficava pra trás e nada deles nos darem o ar da graça... zzzzzzzz...tava dando mal estar de calor, imagina, naquela lua toda, vestida de playmobil com o colete salva vidas e nada de atração selvagem, teve gente que dormiu...

Íamos pensando em liderar um movimento de volta quando alguém lá atrás no barco gritou: É um hipopótamo lá!!!!!!!!!!!!!!!

Vupt, se fosse menor o barco virava, tamanha movimentação de gente para a frente, mas o que se via era muito longe e lembrava uma pedra... Ninguém conseguia distinguir direito, nem eu com minha câmera de zoom potente, nem minha colega do lago com uma supercâmera... Até que, ao se aproximar um pouco mais, com a câmera da colega constatei e gritei: Gente, é sim!

Segundos depois o bichão se levantou, pôs as orelhinhas pra fora, deu de lado e sumiu de novo! Lindo! Enorme! E, nós, aos gritos, parecíamos crianças no zoológico! Era verdade! O Zambeze tem mesmo hipopótamos, que legal!

O barqueiro desligou os motores, a música, calamo-nos todos e nada, o bichão tem a manha de ficar embaixo dágua mais de 5 minutos, segundo disseram e só depois reaparece, quando quer...

Bom, deixa ele, a esta altura a foto do dia já havia sido tirada, mesmo que de longe, mesmo que pegando apenas parte da sua silhueta, o passeio já havia valido!

Faltava apenas o crocodilo! E não foi falta de procurarmos... Olhares atentos, vimos muitos pássaros - impressionnte como há pássaros aqui, cada um mais lindo que o outro! Vimos gado, gente, e mais um cado de coisas, mas o crocodilo, ah, o crocodilo... ???

Estava de Home Leave e nem deixou recado!

A gente ainda volta lá, com dias de águas mais rasas, segundo o barqueiro, tempo ideal de se ver os reis do Zambeze!

Beijos cheios de saudades...