domingo, 16 de maio de 2010

Crocodilo e crianças - a milanesa.

Hoje acordei meio desanimada, o domingo não prometia muito.

Encontrei minhas colegas no hall do Hotel para o almoço e elas também estavam para poucos amigos, tão poucos que decidimos almoçar sozinhas mesmo, rapidinho, sem muito auê. Tem dias em que a saudade é maior e não precisamos de motivos especiais para nos sentirmos mais sós, entediadas ou sem muito afim.

Cheguei a pensar em dar o bolo nos meninos (tínhamos combinado de nos encontrarmos por volta das 14h), mas ao sairmos do restaurante encontrei o Joschwua (descobri que seu nome é escrito assim) correndo em minha direção, sujo, empoeirado e com um belo sorriso aberto, de caderninho na mão. Não resisti. Combinado não é caro e ele, que já havia confessado não estudar, arrumou um caderno para me mostrar - eu não poderia dar o bolo assim, sem uma boa justificativa.

Como queríamos ir ao mercadinho de frutas pedi a ele que me encontrasse em minutos na porta do Hotel. Fui atendida imediatamente.

No mercadinho compramos bananas e vimos uma cena pouco apetitosa. Uns homens em euforia rachavam um grande naco de carne branca numa espécie de madeira improvisada no chão mesmo, de um modo completamente primitivo, misturando carne e terra no melhor estilo "bife a milanesa". A cena era feia e me chamou a atenção por causar frisson até mesmo nos outros vendedores do mercado, que, em Yungué, conversavam com os homens da carne. Eles estavam do lado de fora da cerca, já na parte do terreno que dá para o rio Zambeze.

Curiosa, perguntei carne de quê aquele homem cortava de modo tão destrambelhado e o homem da banca de facas me respondeu que era a carne de um crocodilo morto por eles no começo da manhã. Já pasava das 14h e a carne estava lá, no chão de terra pura, sem o couro, esperando por interessados - e havia um ou dois na beirada da cerca esperando o homem que dava na carne com o machado lembrando o Fred, d´Os Flinstones!

Ainda sob o efeito da resposta e da cena, emendei, perguntando se a carne era saborosa e meu vendedor atencioso respondeu pausadamente e sorrindo: - Dizem que é!
Uma senhora da banca ao lado riu também e sem querer deixei escapar um "Não tenho coragem", recebido de maneira sorridente pelos dois.

Pensei que a máquina merecia estar ali naquela hora, mas, sinceramente, a cena era muito visceral para postar nesse blog meigo. ; )

Ao voltarmos para casa, compramos sorvete e trocamos Dólar por Metical no meio do posto de gasolina com um bololô de homens querendo oferecer o serviço no melhor estilo "troca comigo!". Aqui é sempre assim. Tem 5 vendedores da mesma coisa, pelo mesmo preço. Você chama 1 e vem os 5, como se você fosse comprar 1 de cada, talvez. Ainda não entendo porque eles vem todos juntos, mas a verdade é que estão sempre tão atentos às nossas expressões faciais, que ao menor olhar transmitindo intenção, juntam feito abelha no mel em nós.

A troca correu de maneira diferente do que seria habitual porque decidimos dispensar os demais, afinal, só trocaríamos com um e o preço de todos é idêntico. Afastamos os demais com um sonoro "só um" e retornarmos, mais uma vez na companhia de Joschwa e seu caderno.

Combinei de descer em minutos e fiz assim.

Ficamos pouco tempo hoje, mas o suficiente para fotografar alguns novatos que se aproximaram ao ver os outros posando para a máquina. Eles queriam dançar e brincar mais, mas como a turma cresceu muito e ventava bastante, encerrei o programa mais cedo aos olhares de conformidade dos meus amiguinhos.

Antes, porém, tempo para uma olhada nos caderninhos que me apresentaram, com seus nomes escritos na capa e apenas a primeira folha escrita, com a mesma letra para todos e poucas palavras rabiscadas, anunciando o desejo deles de provar a mim que estudavam como haviam dito. Como eu já imaginava, uma pena - não estudam. Mas como a proposta de me mostrar os cadernos partiu deles mesmos, corri o olho e não aprofundei no papo. Ventava muito, a poeira subia a ponto de me incomodar e eu queria subir logo. Os meninos, como podem ver nas fotos, já estava empanados e nem sentiam o vapor de terra que o vento levantava na intenção de nos deixar, todos, a milanesa.
E assim Tete caminha para a segunda-feira...


Cândido! Novato atraído pela câmera

Cada click era uma risada gostosa.
Ele só fala Yungué!


Joschwa a milanesa, :)


Sabino...
Ri bastante porque comecei a fotografar o Cândido e ele ficou enciumado
; )
 

Hoje ele estava empanado!

Reunidos, novatos e veteranos

A pequena vendedora de ananás...

Mulheres e crianças aqui, e, via de regra, em todo o continente, trabalham muito, grande parte das vezes realizando tarefas difíceis e pesadas.

É comum vermos mulheres se equilibrando pelas ruas com um cesto de abóboras na cabeça, carregando uma criança na capulana das costas além de mais duas pelas mãos. Desafio enorme para qualquer um de nós, elas dão um verdadeiro show nos homens locais, pouco chegados no batente.

Esta foto é de uma menina que flagrei na rua vendendo ananás.

Ela é muito fofa e tem um sorriso lindo, inocente, super simpático - tanto, que até comprei um ananás, rs...