sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Tete 40 e tantos graus.

No colegial eu tinha uma professora, Dona Joana, dava aulas de matemática, e, envolvida com o desempenho dos alunos soltava volta e meia na sala - É gente! "Rapadura é doce mas não é mole não!"
Outra hora, numa gracinha que nos arrancava risos estampados por interrogações, típicas da leveza e pureza infantis, soltava pelos cantos um sonoro - "Its not mole não!" Ou ainda,"Laicar até que nós laiquemos, mas money que is good nós não temos!"

E assim vivíamos as frustrações das notas mínimas nas avaliações, verdadeiras sopas de letrinhas misturadas com números pra mim, desde aquela época, muito mais afeita às letras e temáticas humanas. Aprendíamos a rir da vida e das peças que ela nos pregava, acreditando de fato na máxima do cair e levantar, sempre, mais uma vez, corroborada muitos anos depois pela magia de Walt Disney numa de suas obras primas . Procurando Nemo, quando, da mesma forma, somos convidados a viajar juntos com Nemo, Dory e amigos numa aventura super divertida, cheia de pequenas peças extraídas da vida real. E continue nadando...

Essa introdução toda revela um objetivo maior.
Falar do quanto a gente aprende nesta terra e do quanto esse aprendizado vem de encontro a todas essas lembranças, cunhando em nós, mais precisamente em mim, a marca indelével da condição humana - plasticidade, ou também, capacidade de adaptação.

Tete tem feito altas temperaturas.
As mais altas que já sofri na vida. Digo sofri porque não há palavra que melhor reflita um caminhar ao meio dia debaixo de um sol de 47ºC - Não há!
Você perde a capacidade de raciocinar, desejar, refletir, se bobear, até de rezar.
Se ansiava por um vento fraco, uma brisa, esqueça, eles também são quentes e mais se parecem com o sopro halitoso de um cano de descarga de carreta, ou com o motor indelicado de um gerador. Sai de perto! Frita!

E hoje foi assim, de suar muito, mesmo com o ar condicionado ligado.

Sexta-feira, véspera de Sábado não trabalhado, todo mundo ansioso por um programa qualquer amanhã e o sopro quente do dragão resolveu pousar em Tete, pelo visto, pra ficar.

Saímos as 17h e acredite se quiser - o pequeno Machimbombo que nos levaria ficou sem ar condicionado nos primeiros 100 metros depois da arrancada. Ali já não dava mais para descer e abrir as janelas é pedir pra se internar porque a poeira feito talco entranha na gente de uma maneira indelicada - hoje, certamente faria barro.

Daí você mesmo calcula - 20 e tantas pessoas sentadas lado a lado depois de um dia desses de trabalho num minibus sem ar condicionado e a 20 e poucos quilômetros do asfalto, hein?!

Acho que até o Capitão Nascimento pediria pra sair!!!!!!!!!!!!

Mas eu não pedi!

Acho que estou ficando uma pessoa MAIS.

Mais sonsa! Mais lesada! Mais resiliente! Mais conformada! Mais qualquer coisa diferente que nem reclama mais... Sempre penso que tudo isso ainda pode piorar e resolvo deixar a ira para daqui 5 minutos.

Fiquei tão atingida por aquela onda quente que cheguei a dormir - acho que perdi neurônios, capacidade processual, coisas do gênero - acordei com um grito de alguém que, como eu, tentava do seu jeito absorver aquilo tudo sem surtar de vez e pedir o busão para parar no aeroporto. Já estávamos na fila da ponte e o sujeito provavelmente comemorava a oportunidade de descer, porque, naquela altura, qualquer coisa era melhor do que ficar ali, naqueles banquinhos de napa, trocando calor com o sintético.

Nem conversei. Saí também sem ao menos ver a hora e acreditar que a bicha seria aberta a pouco, eu só queria me ver livre daquele cenário.

E ao sopro quente da brisa que transforma Tete numa secadora gigantesca, atravessei a ponte a pé, ainda meio lesada, compreendi melhor porque as pessoas aqui tem esse olhar perdiiiiiiiiiiiido, porque as crianças, nas costas quentes e suadas de suas mães, seguras pelas capulanas amarradas, resistem ao sacolejar do corpo pregado e nem sequer se manifestam - parecem em transe.

Quando desci do ônibus, minha calça cinza parecia saída do tanque, tão molhada estava. Ao chegar em casa, quase precisei fazer uma reza para descolar a mochila das costas e ainda sim me senti extremamente feliz, a ponto de agradecer, sabe por quê?

Tem luz e água aqui até agora!!!

Corroborando a teoria dos grupos de ajuda mútua e assinando em baixo das falas proféticas da Dona Joana, apenas por hoje eu não vou me aborrecer... Vou abrir a mais gelada das cervejas da geladeira e tomar de gut gut, bem rápido, afinal, "Rapadura é doce mas não é mole não!" e mais do que isso é preciso continuar nadando, afinal, "amanhã vai ser outro dia!".


8 comentários:

  1. Anna, filha de Antônio e Maria: Tete é minha terra natal, em 1956/7 (?) lembro-me de algo como essa temperatura: vc frita antes de ser fritada. Aguente, coma peixe pende, prove maçanica e beba água do Zambeze...Boa sorte, na mais bela terra do planeta.

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  2. Papula,linda,escuta oconselho do Serra...adorei o comentario. beijos saudades mamiiii!

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  3. Meu Deus, tô até com medo de voltar pra Tete. Mas sabe, já comecei a me preparar. Comprei um chapéu. E podem rir de mim, mas vou usá-lo na hora do alomoço. rss
    Bjs
    Saudades!!!

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  4. É... e eu achei que as altas temperaturas que passei no Pará foram sofridas.... Boa sorte e muita força pra vocês!! Jorginho

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  5. Obrigada Carlos, seguirei seus conselhos - alguns já estão nos meus top ten, inclusive! Abraços, seja bem vindo!

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  6. Oi Mãe, minha linda!
    Estou com muita saudade...
    Pode ficar tranquila, tenho me cuidado!
    Um beijo grande, me espera!!!

    Jorginho,
    O Pará tem o inconveniente da umidade muito alta ; eu "descongelava" em Belém e Trombetas e também achava aquilo muito quente, donde passo a crer que de fato a gente não conhece o fundo do poço, hehehe!

    Fernandinhaaaaaaaaaaa...
    Volta logo mulher!
    Traz chapéu e maiô! O piscinão de "Ramos" da casa Mesquita vai ser inaugurado!
    Beijos, estamos te esperando cheios de saudade.

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  7. Anna, não me desanime! Não quero morrer cozida!Boa notícia foi saber que vc tem piscina,kkk!!!

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  8. Ei Gê,que bom vc aqui,
    Menina, a gente tem acompanhado aqui a compra das mobílias e fica o tempo todo só na expectativa de vcs chegarem, rs... Com piscina e tudo!!!
    Beijos,
    Anna

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